domingo, 5 de maio de 2024

Um dia com... Maria Lucília Teixeira Mendes em "A Mãe"

 "Um dia com..." é uma espécie de página de diário, real ou fictício, aqui cada autor pode fazer o relato de um episódio, fazer uma reflexão, colocar um pensamento, uma foto...

Estará disponível todo o ano, independentemente de outros projectos a correr aqui no Blogue. E está aberto a todos, se tiver algo que queira partilhar, pode enviar para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com indicando no assunto "Um dia com...". Podem enviar quantas participações quiserem.

Mesmo a propósito neste Dia da Mãe, um esperado regresso por parte dos seus muitos admiradores. Maria Lucília Teixeira Mendes escreveu por seu próprio punho (literalmente) esta homenagem ao amor em forma de mãe ou à mãe representação do amor.

A Mãe



O mundo era escuro, tão triste, medonho,
As flores sem cor.
E aos seres da terra faltava o sustento
Força p’ra viver
E então, Deus disse: - “Faça-se a luz!

E a luz brilhou em todo o esplendor.
As flores sorriram e mil tons coloridos
E os animais, livres pelos campos,
De cada iguaria sorviam o sabor

Na terra sem água, dura, ressequida,
A vida murchava ao morrer a seiva
Que a alimentava e a tinha de pé
Então, disse Deus: - Que se abre o céu!

E a chuva caiu das nuvens fecundas
Em pingas tão longas que se derramaram
Nos campos, nos montes e em cada jardim
Trazendo a vida à morte temida

Andavam na rua meninos chorosos,
Tão feridos, tão sujos, famintos, medrosos,
Sem calor, abrigo
Sem qualquer refúgio para repousar
Então, disse Deus: - Faça-se o amor!

E o amor brotou, tão lindo, tão puro,
Sorridente, terno.
Em jeito perfeito de uma mulher
A ela correram os meninos do mundo
Pedindo colinho, carícias, ternura
Seguros p´ra sempre do amor de mãe.

Deus olhou feliz a obra criada
E desceu à terra em corpo de menino
Por querer p’ra si uma mãe também!


04/05/2024


É "um dia com" que saudamos com particular entusiasmo, carinho e muita esperança. A nossa autora, vencedora de inúmeras votações do público, bombeira oficiosa de todos os que precisam de ajuda, está a ter um ano complicado. Desde 20 de Janeiro, dia em que foi atropelada numa passadeira, que está hospitalizada. Para além de vários ferimentos "menores" fracturou a bacia. É pois com muita alegria que recebemos este seu poema, escrito a 4 de Maio, a partir da unidade de cuidados continuados para onde foi transferida no passado mês e onde, finalmente, parece começar a haver uma séria recuperação.
Temos estado a acompanhar esta situação desde início, se bem que nada mais possamos fazer do que lhe dirigir as nossas orações e encorajamento, mas se mais alguém se quiser juntar a nós, estamos certos que não será ajuda em excesso.

terça-feira, 30 de abril de 2024

Laura Ramos, autora do conto "Pedro regueifas e o sonho que muda tudo - José do Egito -", em entrevista



Laura Ramos foi uma das autoras cujo trabalho concorreu ao nosso Prémio de Conto Infanto/Juvenil, 2023, teria também direito à publicação do mesmo na colectânea "Heróis e Heroínas da Bíblia - Como tu", contudo já tinha dado outro destino ao conto e, muito gentilmente, acedeu a escrever um novo conto para  essa colectânea:  "Pedro regueifas e o sonho que muda tudo - José do Egito -". 

Mantendo o que parece ser o standard de entre os nossos autores, também esta viseense, de 55 anos, tomou o gosto pela escrita ainda muito nova.
Para esta colectânea escolheu abordar um tema muito sério e muito actual tendo por inspiração a história de José do Egipto.
Mas deixemos que seja a autora a explicar como casou tão bem o antigo e o contemporâneo para transmitir a sua mensagem. Laura Ramos, de voz própria e na primeira pessoa:

Conte-nos como e porquê começou a escrever, por paixão ou por necessidade?
 
Comecei a escrever aos onze ou doze anos de idade, por paixão. Comecei pela forma em poesia.
 
Qual o papel que a escrita ocupa na sua vida?
 
Continuo a escrever porque realmente a escrita tornou-se uma paixão, mas trata-se de um hobbie e não um modo de vida.
 
Sempre sonhou publicar um livro? /Publicar um texto num livro?
 
Não. Durante muito tempo, escrevia porque tinha o impulso de escrever, sem qualquer objetivo específico, mas apenas fazer uma atividade que me encantava.
Só muito mais tarde, ocorreu-me a ideia de transformar uma história num livro.
 
Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o livro nas mãos?
 
É sempre uma grande satisfação sentir que uma história teve força suficiente para se transformar num livro e ver a obra acabada com uma forma concreta e a capa torna-se realmente importante para a identificação da história e o seu simbolismo.
 
Tem algum projecto a ser desenvolvido, actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de escrever?

Sim. Tenho em vista a publicação de novo livro. Quem gosta muito de escrever, acaba sempre a tropeçar numa história nova.
Em todo o caso, não faço grandes projetos, pois só escrevo aquilo que realmente me apetece e quando me é possível, sem me obrigar a ter qualquer ritmo de publicações, designadamente por não viver da escrita.
Escrevo quando me parece ter uma inspiração que merece descer ao papel e que seria imperfeito não lhe dar voz.
 
Fale-nos um pouco sobre o(s) seu(s) texto(s)
 
De momento, quero levar a cabo um livro que será um pequeno romance, uma história que tem por pano de fundo a incerteza sobre o futuro diante da instabilidade da natureza. Atraem-me os temas relacionados com a época de transformações que a Humanidade atravessa atualmente.
O conto que escrevi trata da questão do bullying e retira esperança de um texto bíblico porque a Bíblia tem histórias de vida inspiradoras e que dão ensinamentos. Tentei dar corpo a uma história que retrata uma situação de que hoje se fala muito e que atinge crianças e jovens, mas sempre com referência ao episódio bíblico de José que não se deixou abater pelos tratos perversos que recebeu dos próprios irmãos e acabou por beneficiar a longo prazo de um contexto inicialmente negativo.
 
 
Existe alguma parte do texto, em particular, que goste mais. Porquê?
 
Em qualquer livro que escreva, existem sempre partes que dão mais prazer escrever do que outras. Poderá ser por serem passagens mais inspiradas da história, quer do ponto de vista dos acontecimentos, quer do ponto de vista da exploração das frases e palavras.
 
Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu texto? O que acha
mais apelativo no seu texto?
 
É um pouco difícil responder a esta pergunta, mas talvez a atualidade dos assuntos que servem de pano de fundo, a visão possível sobre o mundo contemporâneo.
Torna-se difícil ter uma visão objetiva sobre aquilo que escrevo, nomeadamente por ser difícil ter o necessário distanciamento, mas posso dizer que algumas passagens são particularmente inspiradas.
 
 Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?
 
Eu gosto de experimentar a conjugação de palavras aparentemente incompatíveis ou criar/dar vida a palavras ou situações aparentemente inertes.
Normalmente, há sempre um pano de fundo espiritual ou de análise da vida e das pessoas. Há sempre alguma personagem mais dada aos mistérios ou à religião. Outras vezes, como já aconteceu, escrevo para tentar perceber o mundo como ele se apresenta ou como ele pode ser visto.
 
Qual o papel das redes sociais na vida e na divulgação da obra de um autor? E na sua?
 
Penso que as redes sociais têm um papel relevante na divulgação dos livros que se publiquem, mas não será suficiente.
Eu tenho presença no Facebook, Tiktok e Instagram, além de um site, mas nem sempre disponho de tempo livre para alimentar a devida publicidade aos meus livros.
 
Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?
 
Depende do tempo disponível que tenho, mas gosto essencialmente de ler antes de adormecer ou na praia ou em transportes públicos.
Prefiro livros sobre personalidades históricas, biográficos ou romanceados – gosto muito de romances históricos - ou mesmo que sejam documentos/estudos sobre períodos da História ou personalidades históricas.




Heróis e Heroínas da Bíblia – Como tu… - Contos – Várias autoras
PVP: 13,00€
192 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2024

Desde sempre que os feitos dos heróis e heroínas foram divulgados, contados e recontados; celebrados, perpetuados sob inúmeras formas (…) O nosso propósito é fazer algum paralelo entre as situações vividas pelas personagens bíblicas e aquela que pode ser a vida de “personagens contemporâneas”;(…) os contos foram enriquecidos com as ilustrações da Melissa de Aveiro.


Livro disponível nas principais plataformas nacionais e internacionais e na nossa loja online.

Pode encomendar enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt











 

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Maria João Amaral Graça, autora dos contos "Chico, o bom samaritano" e "Ester, o Anjo do Orfanato", em entrevista

 




Maria João Amaral Graça é licenciada em Comunicação e trabalha como assistente administrativa numa empresa de energia eléctrica.
Foi uma das autoras cujo trabalho concorreu ao nosso Prémio de Conto Infanto/Juvenil, 2023, e teve direito à publicação do mesmo na colectânea "Heróis e Heroínas da Bíblia - Como tu". Para essa colectânea ao conto do Prémio: "Chico, o bom samaritano" juntou também, a convite, o conto "Ester, o Anjo do Orfanato". 
Participou, igualmente, na nossa colectânea do Natal 2023 "Memórias de Natal", com os contos: "Um Natal Mágico" e "O Presente de Natal Misterioso".

Despertou para a escrita ainda muito nova e continua essa prática diariamente, em vários estilos, nomeadamente no seu blogue, cuja visita recomendamos.
Mas deixemos que seja esta autora, de 47 anos, a explicar as suas experiências pelos vários géneros, à procura do seu próprio, nomeadamente nos dois contos inseridos em "Heróis e Heroínas da Bíblia - Como tu -". Maria João Amaral Graça, de voz própria e na primeira pessoa:

   Conte-nos como e porquê começou a escrever, por paixão ou por necessidade?

A escrita entrou na minha vida aos quinze anos, quando comecei a escrever poemas rimados sobre o que observava à minha volta, mantendo sempre esse registro até entrar na faculdade, onde, felizmente, conheci  as crônicas de António Lobo Antunes, na disciplina de  Literatura Portuguesa, cuja escrita sarcástica e crítica em relação a situações do quotidiano me deixou completamente rendida e com vontade de escrever as minhas próprias crónicas. Apesar de ter escrito muitas, guardadas até hoje na gaveta, foi somente aos vinte e três anos, quando tive a minha filha, que me interessei  verdadeiramente pela escrita ficional. O que eu gosto mesmo é de criar personagens, tramas, inventar diálogos, escrever uma história com um princípio, um meio e um fim, que possa ser apreciada por outras pessoas. Sejam histórias infantis, de suspense, ou mesmo de terror, eu adoro um bom desafio.

  Qual o papel que a escrita ocupa na sua vida?

 Eu escrevo todos os dias.  Mesmo que não esteja com nenhum texto em mãos para participar em algum concurso literário, ocupo-me com o Blogue - https://mariajoaoamaralgraca.wixsite.com/aquihahistorias/blog  ou com a página que criei no  Instagram - https://www.instagram.com/mariajoaoamaralgraca/ . Eu adoro qualquer trabalho que exija o uso da escrita, misturada com a criatividade.

 Sempre sonhou publicar um livro? /Publicar um texto num livro?

Sim. Eu tenho esse sonho desde que comecei a escrever histórias. Adorava ver uma obra minha exposta na vitrine de uma livraria, um dia. Penso que é o sonho de qualquer escritor, o de partilhar com outras pessoas um pouco de si próprio, que é revelado através da sua imaginação.

 Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o livro nas mãos?

De missão cumprida. A sensação de que me comprometi a realizar algo, e que levei esse compromisso até ao fim.

 Tem algum projecto a ser desenvolvido, actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de escrever?

Eu tenho sempre vontade de escrever. Tudo à minha volta me dá ideias, seja uma passagem de um filme, ou o excerto de um livro que esteja a ler no momento, ou situações que acontecem quando vou à rua, conversas que ouço à minha volta. Atualmente, estou a escrever contos para participar em concursos que vão abrir ou que já estejam a decorrer, e estou a escrever um conto para submeter à Fábrica do Terror. E, claro que desejo voltar a publicar um livro, se entretanto surgirem oportunidades.

   Fale-nos um pouco sobre o(s) seu(s) texto(s)

 Ao escrever os textos “Chico, o Bom Samaritano” e  “Ester, o Anjo do Orfanato" tentei que ambos passassem uma mensagem importante, a de que deveria existir mais empatia entre crianças, o que, infelizmente, não acontece nos dias de hoje, por diversas razões. Nunca é demais realçar a importância da bondade, da humildade e da generosidade,  princípios que deveriam ser sempre seguidos nas escolas, ou outras instituições, embora saiba que é a função dos pais incutir nas crianças esses valores. No caso de “Chico, o Bom Samaritano” resolvi criar uma história que certamente deverá acontecer com imensas crianças nas escolas do mundo inteiro, que por terem menos que as outras sofrem bullying por parte dos colegas, incapazes de se colocarem na pele de quem menos tem. Já em “Ester, a Anjo do Orfanato”, tentei mostrar através de uma criança de 12 anos, que aqueles que têm a sorte de serem abastados deveriam ser mais generosos,  ajudando os mais carenciados. Graças a Deus, existem muitas pessoas que o fazem, contudo, nunca é demais lembrar que devemos ser bondosos e generosos para com os outros.

 Existe alguma parte do texto, em particular, que goste mais. Porquê?

No caso de Chico, o Bom Samaritano é a parte final que diz “é bom fazer o bem ao próximo, todavia, é ainda mais gratificante observar a felicidade de quem é ajudado”. Eu própria já tive essa sensação, e é maravilhosa. Sentimo-nos bem ao ajudar quem necessita, porque assim o devemos fazer, caso tenhamos essa possibilidade, e sem estarmos à espera, a pessoa retribui com lágrimas de gratidão. É porque tocamos o coração da pessoa, e isso é indescritível. Já no texto de Ester, o Anjo do Orfanato, gostei bastante do papel da avó Madalena na história, e como a revelação do seu triste passado contribuiu para alterar a forma de pensar do filho. Às vezes, julgamos primeiro e só depois é que ouvimos, quando deveria ser o contrário.

Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu texto? O que acha mais apelativo no seu texto?

 Tive imenso prazer em escrever ambos os textos, porém, confesso que gostei bastante mais de Ester, a história de uma menina pobre, que de um momento para o outro, vê-se rodeada de luxos com que nunca sonhou. E, ao invés de se adaptar à sua nova vida, ela não descansa enquanto não encontra forma de melhorar também a dos seus amigos no orfanato. A minha intenção talvez fosse mostrar que a ajuda vem de quem menos se espera, e no caso de Ester, vem de uma avó que escondia um passado bem triste, e que foi obrigada a revelá-lo para ajudar a sua neta adotiva.

 

 Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?

Considero que ainda não encontrei o meu estilo, aquele que possa dizer “É Meu”. Sei que cada escritor escreve de forma diferente, contudo, ainda estou naquela fase de aprendizagem, em que me limito a dar vida às minhas histórias, seguindo a voz de um ou outro autor com quem me identifico mais. Adoro qualquer desafio de escrita, seja para adultos ou crianças, apesar de me sentir mais inclinada para a escrita de horror/terror, talvez consequência do meu fascínio pelo sobrenatural. Mas acredito que também eu  hei-de encontrar a minha própria voz literária.

 Qual o papel das redes sociais na vida e na divulgação da obra de um autor? E na sua?

É escusado negar que, hoje em dia, as redes sociais são uma ferramenta essencial para que o nosso trabalho alcance um maior número de pessoas. Criar um blogue, um site, uma página no Facebook, no Instagram ou qualquer outra plataforma que nos ligue a outras pessoas torna-se, sem dúvida, necessário para que o nosso trabalho seja conhecido.

 Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?

Confesso que gostaria de ter mais tempo para ler. É uma prática essencial para nos tornarmos bons escritores, por isso, todos os meses me comprometo a ler um livro. Claro que, muitas vezes, não consigo acabar no tempo estipulado, mas pelo menos obrigo-me a pegar nele e a ler, nem que seja uma página por dia. Desta maneira, não perco o hábito da leitura, que considero que todos deveriam ter.

 

  


Heróis e Heroínas da Bíblia – Como tu… - Contos – Várias autoras
PVP: 13,00€
192 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2024

Desde sempre que os feitos dos heróis e heroínas foram divulgados, contados e recontados; celebrados, perpetuados sob inúmeras formas (…) O nosso propósito é fazer algum paralelo entre as situações vividas pelas personagens bíblicas e aquela que pode ser a vida de “personagens contemporâneas”;(…) os contos foram enriquecidos com as ilustrações da Melissa de Aveiro.


Livro disponível nas principais plataformas nacionais e internacionais e na nossa loja online.

Pode encomendar enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt

terça-feira, 23 de abril de 2024

Novo livro: Desafios de autores para autores - o livro - Volume IV - 2023

 


Todos os pretextos são bons para publicar novos livros, mas neste dia tão especial, Dia Mundial do Livro, e neste blogue em particular (que é o lar dos Desafios) tem ainda mais significado reunir em volume impresso os Desafios de autores para autores que animam o nosso blogue ao longo de todo o ano. Mesmo que tenha por hábito ler estes textos aqui no blogue, com toda a certeza, não vai querer perder esta colecção de poemas, contos e fotografias, para ter consigo e disfrutar em qualquer momento.
Assim, e pelo quarto ano, reunimos as participações relativas ao ano anterior: poemas, contos, pensamentos e fotos. Bem prático, bem organizado.

Desafios de autores para autores – o livro – Volume IV- 2023; Vários autores
106 páginas, capa mole, Tecto de Nuvens 2024  PVP: 11€
 
(…) demos continuidade a estes Desafios, alguns dos quais se tornaram clássicos (…) Se os temas se repetem, a verdade é que a criatividade não se esgota e os autores continuam a presentear os leitores com bons poemas, bons textos em prosa, boas fotografias.
E são estes os nossos Desafios, realizados ao longo do ano, que agora reunimos em volume físico.


O livro estará disponível para envio a partir do dia 7 de Maio 2024. Pode desde já fazer a sua encomenda para loja@tecto-de-nuvens.pt e beneficiar de um desconto de 10%.


Desafios de autores para autores: Abril - Dia Mundial do Livro

 


O desafio para este mês era livre, um pequeno texto, com menos de 20 linhas (usamos uma folha A5 para verificar este detalhe, mas dependendo se estão a ver o blogue num telemóvel, tablet ou computador, os textos podem aparecer com mais ou menos linhas) podem usar uma folha A5 como referência) sobre o que quisessem, seja um livro que vos tivesse marcado, um pequeno conto de vossa autoria, um pensamento (que pode vir acompanhado de uma foto tirada por vós); o início de um livro que planeiam escrever (ou já escreveram, mas ainda não publicaram)...
Neste dia, em prosa, celebramos a palavra escrita como forma de comunicação, de expressão de sentimentos, de companhia, de forma de viajar (pela memória, por exemplo), etc.
Porque este ano celebramos os 50 anos do 25 de Abril também aceitamos que se escrevesse sobre o 25 de Abril e/ou a liberdade (ou liberdades).
Abrimos, agora as votações, que vão terminar a 15 de Maio.
Como habitualmente, as votações serão feitas usando a caixa de comentários (já sabem que tem moderação pelo que os comentários/votos não ficam visíveis de imediato), não há limite para o número de vezes que podem votar ou em quem votar, apenas se espera algum bom senso (e apesar de aceitarmos que no blogue as votações ficam anónimas, só validaremos os votos após recebermos por email a identificação do votante e forma de contacto, assim que lhe atribuirmos um número).
O autor do texto mais votado e o votante seleccionado por sorteio ganharão um exemplar de capa dura da colectânea: "A História que eu queria contar".




(1) SER MAR


O mar é uma presença constante, desejada, libertadora, apaziguadora e baú de histórias e segredos de toda a minha vida. Por tal, ponderei muito escrever sobre o tema e o que partilhar – foi um trabalho que durou 2 anos de rascunhos, papéis rasgados, introspecção, silêncios e sorrisos que partilho.
A maturidade oferece-nos a experiência de vivermos de forma mais quântica – este será um livro em que pouco é ficcionado sendo quase na totalidade, constituído por crónicas de vida real.
A exposição escrita de um ou mais eventos de sequência temporal.
Porque escrever e partilhar me faz, também, feliz. Estas, serão, as crónicas vivenciadas possíveis.
Assim começa o Conto Odisseias de Eça de Queiroz, nascido a 25 de novembro de 1845, na Póvoa do Varzim: “Sentado numa rocha, na ilha de Ogígia, com a barba enterrada entre as mãos, donde desaparecera a aspereza calosa e tisnada das armas e dos remos, Ulisses, o mais subtil dos homens, considerava, numa escura e pesada tristeza, o mar muito azul que, mansa e harmoniosamente, rolava sobre a areia muito branca. Uma túnica bordada de flores escarlates cobria, em pregas moles, o seu corpo poderoso, que engordara. Nas correias das sandálias, que lhe calçavam os pés amaciados e perfumados de essências, reluziam esmeraldas do Egipto. E o seu bastão era um maravilhoso galho de coral, rematado em pinha de pérolas….”

Introdução a novo Livro de Bastos Vianna


(2) O PORQUEIRO DA CAPELINHA


Conheci o compadre Elísio nas minhas férias de verão, durante uma visita sua aos meus pais, para acasalar o seu porco com a nossa porca. Já o Sol se esgueirava no horizonte, quando o vi entrar pelo portão da quinta da Capelinha, numa barulhenta moto sidecar. “Viva!”, cumprimentou ele, enquanto tirava o capacete da cabeça do animal sentado no assento ao lado. “Coitado!”, disse eu, mas o homem explicou que preferia um porco estressado a uma multa da polícia. Dirigimo-nos, então, até ao curral, onde se consagraria o ato sexual. Porém, o que nós não sabíamos é que ele costumava abusar de uma simplicidade linguística, que chegava a ser deselegante.
“Dá-lhe com força, Januário”, gritou o compadre, eufórico. Imediatamente olhei para a mãe (que sempre teve horror a pessoas sem polimento nos modos), cuja palidez transparecia um desconforto brutal, face ao manifesto ordinário. Mas o melhor ainda estava para vir. Uma vez que os chicos se estavam a dar bem, nada mais tínhamos a fazer ali, mas o homem insistiu em ficar. O seu comportamento tão estranho impeliu-me a perguntar se se considerava porqueiro, pois se guardava porcos e não uma porta, tinha de ser porqueiro, em vez de porteiro, ao que ele respondeu, com um sorriso mordaz : “Gosto de ver”. Prevendo que a mãe se preparava para citar Michele Cúrcio no seu Manual de Etiqueta (livro que andava a ler, na altura), o pai puxou-nos dali para fora, libertando a gargalhada que mantinha presa desde o momento em que o viu chegar. Com um sorriso, de orelha a orelha, olhou para nós e disse: “Fogo! Entre o porco e o senhor Elísio, venha Santo Antão e escolha”.

Maria João Amaral Graça


(3) QUE FUTURO?


Num futuro que não se assemelha, nem se parece auspicioso, somos quase que muitas vezes, como que forasteiros, num mundo que não reconhecemos, e que parece não ser o nosso.
Assim os a tormentos de vida, e a sua conquista por novos ou velhos ideais, desmancha tudo aquilo que vem de nós, e que está ao nosso alcance, que só nos basta, tão somente tocar…
A vida e o sonho! Num mundo que preenchemos de colorido, e que não pode ser mesmo de outra forma, ou modo.
O Fado. A Saudade, e uma vida à espera do seu sabor.
Porque se todo o mar tivesse sangue português, este meu trecho, teria parte dele, na paz que parte à revelia, do voo de uma simples gaivota.
Num mundo em que o amor dança como dançam os peixes do mar, partindo à revelia, de palavras que ecoam como gritos de salvação. Em vozes, que expressam o grito da alma de um povo, que sonha, embrenhadas no ímpeto de um caminho, que se segue: a caminhar.
Com o jugo de Deus, tão presente, que o ouvir desta mensagem, nos faz pairar… parando nos portos de alma!
Lúcida como uma voz que rasga o silêncio. Num sábio discorrer, que leva a palavra a um discreto cair de noite, e a um breve amanhecer. Porque a alvorada aí vem!
E, com ela gritos de liberdade ecoarão, como que oriundos de rochas eternas, jamais silenciadas. Assim é o provincial povo português, em sua demanda pela vida, em busca de novos horizontes… e valores… No ganha pão que lhe é contumaz. Na luta pela vida!

Timóteo Pernas

(4) Confidências ao amanhecer



Ternos amantes de Haifa, tereis construído vosso ninho depois que vos deixei? Viverá ainda a árvore do vosso belo jardim? Viverão ainda passarinhos amando-se ao crepúsculo, quando no mundo os homens desistirem de matar?

Ana Ferreira da Silva


(5) O NOSSO 25 DE ABRIL


Meu querer esvoaça por entre ramos de árvore, espavorida vontade.
Tu peneiras hesitação e cautela em maceira carunchada de orgulho, levamos a vida assim. A poda corta os ramos, os rebentos rejuvenescem.
Uma alegria fura cinza ditada a preconceito, o levedado cai ao chão.
A madrugada levanta-se, a rajada entrega recado ao vento. Acompanha-me!
Toda inteira me atiro, alma a transbordar, espargir um só sinal de união, minhas asas batem, meu voo plaina trespassa o fogo da exclusão tombada.
Sim tenho asas, a manif é passo seguro ergo a voz vontade do povo.
Tu acanhaste, cultivas a distância do espelho, és em observação.
Pernoito sozinha em teu pudor, aguento firme a sensaboria que tu me dás, ao esquentar da luta abro a janela ao nosso amor, tu acolhes-me em silêncio, a afoiteza de minha vontade aguçasse, pico-te, levo-te p'rá multidão.
Os píncaros da tua cautela arreiam, abres-me a porta, és assim intacto, na alegria comum acompanhas-me, um vento frio é o teu alento.
O ar bate-me de frente a tua energia dá-me a mão, és apoio seguro.
Arrelio-te, entregar-me; nunca me entrego, tu sabes nunca digo nunca.
Dobra-se a esquina, o sonho paira informe, nossa vida tem de continuar.
Recolho-me em meu trabalho, contigo danço a solidão que continua a fazer e faz. Nascem netos, netas, outra revolução mareja em ternuras de Abril nosso mês, nosso pedaço em luta, nosso abraço, nosso quinhão de esperança.

Manuel José


(6) LIBERDADE, LIBERDADE...

Recordo-me de uma velha canção que rezava qualquer coisa como isto: “Liberdade, liberdade, quem na tem chama-lhe sua; eu não tenho liberdade, nem de por o pé na rua...”
No outro dia, seguindo a rotina dos dias livres, fui ao mini-mercado do bairro comprar pão, e deparei com o espectáculo triste de uma pomba a esvoaçar entre a vitrina e os carrinhos de compras: debatia-se e chocava com o vidro, continuava a debater-se e a chocar com o vidro...
Desviei os carrinhos , mas não resolvi o problema, porque o pobre bicho se chegou para o lado e desatou a esvoaçar entre a pilha de cestos de compras e a vitrina, insistindo na tragicomédia de se debater e chocar com o vidro, com uma insistência crescente e confrangedora.
O rapaz da caixa veio desviar os cestos; mas quando julgávamos que a pomba iria evadir-se porta fora, eis que a desditosa resolve enfiar-se pela loja, indo colidir a alta velocidade com um espelho a meio da casa.
Estonteada, deu meia volta, mas não conseguiu atinar com a saída, e foi chocar, com grande estrépito, na vitrina contra a qual tão bravamente se debatera! Desta vez desmaiou. Desmaiou e caiu dentro de um cesto. Olhei para o rapaz da caixa, como eu aliviado por ver fim à saga da pomba. O moço pegou então no cesto e despejou-o para a rua. Instantaneamente recuperada, a pomba fugiu “a sete asas” e foi à sua vidinha.
E eu fiquei-me a pensar como é, por vezes, penoso e cheio de escolhos o caminho da liberdade...

Ana Ferreira da Silva


(7) Liberdade

Chamam de liberdade às escolhas que fazemos. Mas é mais do que isso, não?
Liberdade feminina, liberdade de expressão, liberdade de abril, liberdade de libertação. Liberdade de pensamento, mas, nem sempre, de se agir!
Liberdade subjetiva. Liberdade, a fingir.
A liberdade é um bem tão apreciado que, por vezes, até criticamos a alheia. Defendida com discursos e atacada de mão cheia!
A liberdade é um direito, mas nem sempre é assim… A liberdade tem sempre um preço e um limite, por fim!
A maior liberdade é ser-se livre na nossa própria mente… quem disser o contrário, é porque mente.

Melissa de Aveiro


(8) num comboio de abril

em vinte e vinte e um de abril. se não me engano no dia. do ano de setenta e quatro claro. chegava de comboio a Portugal. vinha do estrangeiro. já tinha acabado a tropa. estive naquilo que se chamavam províncias ultramarinas. é verdade. pertencia a um movimento clandestino dentro da tropa. vinha carregado de papeis. a polícia vasculhou todo o comboio. saí do compartimento. mas a polícia nada encontrou. ainda bem. sabia que existiam movimentações de alguns militares. mas não prestei atenção. no estrangeiro existiam muitos movimentos para a libertação. e liberdade em Portugal. foi com algum espanto que recebi a nova do vinte e cinco de abril. já tinha distribuído a documentação. foi com o zé manel. mais conhecido por testinhas. não sei porquê. foi o fernando que me deu a nova. e depois a quininha. tinha ouvido na rádio. o meu destino foi o Porto. Na avenida dos aliados já estava muita gente. muitos estudantes. vi o pedro a gritar liberdade. e arremessou pedras contra o consulado da áfrica do sul. fomos em manifestação até à sede da polícia política. que era chamada direção geral de segurança. gritamos liberdade para os presos políticos. uma rajada de metralhadora atirou-nos para o chão. deveria ser da legião. ou da guarda nacional republicana. as esquadras da psp estavam encerradas. até que os presos vieram à varanda. estavam livres. foi o delírio. tínhamos vencido o combate. e foi o meu comboio de abril. que me trouxe em condições de estar no dia mais festivo. que já tive. hoje festejo-o. com muito amor. até porque seria preso antes do dia um de maio. e não fui.

joaquim armindo
20/4/2024


(9) As folhas da vida em 4 estações



Depois de terem passado uma temporada da vida a ter a sua utilidade, a deliciar a vista a quem dá as boas novas à PRIMAVERA e de fazerem sombra na copa das árvores para servir quem da sua sombra precisou para suportar o calor do VERÃO, eis que chegou o OUTONO, tal qual o outono da vida, em que a sua utilidade se vai perdendo e vão caindo por terra. E com o implacável general INVERNO sucumbem pisadas e maltratadas aos pés de quem um dia delas precisou.
Aníbal Seraphim



(10) nunca esquecer bispo Luís Pereira

quem pensa em vinte e cinco de abril não esquece quem lutou por ele. se existem muitos cristãos na primeira linha. um deles. tantas vezes esquecido. conveniências. Luís Pereira era médico. em vila franca de xira. o médico dos pobres. mas também foi bispo. da igreja lusitana. e responsável pela sua adesão à comunhão anglicana. a sua casa foi invadida pela polícia política. um dos seus filhos permaneceu algum tempo nos calabouços dessa polícia. o bispo que apoiou sempre os jovens do torne. este grupo pertencia à igreja lusitana do torne. em gaia. mas tinha jovens de todas as confissões. e ateus também. aquando do meu segundo interrogatório pela polícia. e das suas idas a casa dos meus pais. o bispo deu inteiro apoio. e telefonicamente disse ir intervir junto da embaixada inglesa. nunca teve vergonha dos jovens da sua igreja. e sabia que era o evangelho que os guiava. apoiou sempre. obreiro do vinte e cinco de abril. esquecer este bispo e a sua luta nunca poderemos. nem o bilhete que marcelo caetano lhe enviou o fez demover. pedia desculpa pela prisão de seu filho. classificou-o como uma atitude de velhacaria. parece que está voltado ao abandono. na sua terra ninguém o esquece. uma estátua sua está no jardim. a junta e a câmara prestaram-lhe tributo. não precisa de tributos. é verdade. a sua igreja nunca o poderá esquecer. no seu oratório tinha sempre o evangelho. e o jornal do dia. para que não esquecer aqueles que precisavam. nunca esquecerei o bispo Luís Pereira. uma vida para os outros.

joaquim armindo
22/4/2024

(11) Memórias à Deriva

Estou no nosso sítio preferido, onde a perspectiva é infinita e sem fronteiras.
Vínhamos aqui sempre que nos reencontrávamos. Aqui conversávamos, recordávamos o que fomos, o que vivemos, as nossas memórias, de um jeito delicado para não nos magoarmos.
No entrelaçado das nossas memórias tentávamos celebrar, enaltecer e preservar o melhor do que delas havia, com carinho e cuidado.
Sabíamos que éramos frágeis, feridos pelo que podíamos ter sido e, por isso, revivíamos com alegria os pequenos momentos em que um dia fomos, num tempo em que não tínhamos medo de que um dia não fossemos mais.
Lembro-me da primeira vez que tive medo. Pegaste-me ao colo com força, uma força protectora, um colo quente e seguro. No teu abraço carinhoso, protector e paciente percorreste comigo todos os cantos dos meus medos e provaste-me que não havia razão para ter receio.
Ensinaste-me que mesmo que sentisse medo estarias sempre lá para me garantir que o teu abraço forte e quente seria o meu escudo protector. Tornaste-me guerreira e destemida. Sem medo do medo fizeste-me sentir invencível, confiante.
Admirava-te profundamente. Ter-te ao meu lado era sentir o mundo nas mãos.
E mostraste-me o Mundo.
Vagueamos de terra em terra, sempre com curiosidade, rumo ao desconhecido. Íamos apreciando as diferentes paisagens, cheiros, sons e sabores. De tanto percorrermos já tínhamos lugares nossos, sítios mágicos onde parávamos para recordar e ver como estavam.
Lembras-te da nossa árvore onde fizemos um juramento? Será que ela ainda existe?

Sofia d’Almeida Oliveira

(12) PAUSA PARA MEDITAR

Seguindo o Caminho Português de Santiago, passados alguns quilómetros de Tui, o peregrino depara-se, a dada altura, com um memorial composto por um crucifixo de pedra e uma lápide, numa pequena clareira entre os eucaliptos, por onde correm as águas cristalinas de um delgado regato.
O memorial assinala o local onde, em Abril de 1251, foi enterrado S. Telmo, bispo de Tui, vitimado por doença no regresso da peregrinação, e o regato cantante ostenta o sinistro nome de “rio das febres”. Na lápide pode ver-se a seguinte inscrição: “(...) Pede-lhe que fale com Deus a teu favor”.
Naquela clareira, pequeno vale retirado do buliço da estrada e da agitação do dia-a-dia, respira-se paz. É hora de poisar a mochila e fazer uma pausa para meditar.


Ana Ferreira da Silva


(13) Cinquenta anos de Abril

Hoje, é extremamente necessário discutir o que vem a ser liberdade, frente aos ataques que temos a ela.
Para alguns a liberdade está na natureza, no ser humano em seu estado natural e a sociedade surge e vem roubá-la. A liberdade que quer ser livre!
A liberdade é o resultado do tender das várias liberdades individuais que de alguma forma se complementam.
A liberdade é ainda, para outros, a comunhão e não isolamento e portanto ela acaba onde começa a do outro. Depois há ainda quem diz que ela é o ponto de chegada e não o de saída. Mas então o que é a liberdade se o próprio homem é servo das suas necessidades?
Hoje a liberdade não é mais igual há de cinquenta anos. A tal liberdade de abril, onde se lutava pelo medo ao clandestino.
Em 1974, eu era adolescente, quando rebentou a palavra liberdade. Mas para mim, como adolescente, eu corria com liberdade. Só depois, entendi que a liberdade afinal não era liberdade para muitos. Encontrei muitos a gritarem essa palavra que eu desconhecia na sua plenitude. No Sierra de cor beije ouvia vivas à liberdade e cantava com outros ‘Uma Gaivota voava”. Cinquenta anos depois de percorrer alguma vida , o mesmo país que gritava a liberdade, pergunta-se; será que é possível, chamar-se liberdade neste reino da necessidades, de luta e desinformação, onde a população continua a contar os tostões para sobreviver? O que foi que mudou no contexto da necessidade?

Ilda Pinto Almeida

terça-feira, 16 de abril de 2024

Cynthia Leite da Silva, autora de "A Detetive Carlota", em entrevista

 

 Cynthia Leite da Silva é Mestre em Criminologia e trabalha como técnica de prevenção de violência. Foi uma das autoras cujo trabalho concorreu ao nosso Prémio de Conto Infanto/Juvenil, 2023, e teve direito à publicação do mesmo na colectânea "Contos Contados e Encantados". Participou, igualmente, na nossa colectânea do Natal 2023 "Memórias de Natal".
A sua formação académica e a sua profissão dão-lhe uma boa perspectiva da necessidade de incutir bons valores às nossas crianças para que cresçam naturalmente com um espírito de aceitação e de solidariedade e empatia, que permitem não só uma melhor convivência, mas evitarão muitas situações de conflito e violência.
Mas deixemos que seja esta talentosa escritora, de 28 anos, a falar da sua escrita, de voz própria e na primeira pessoa...

Conte-nos como e porquê começou a escrever, por paixão ou por necessidade?

Escrevo desde criança. De uma forma mais ou menos “séria”, sempre gostei muito de escrever. Em situações e grupos onde era preciso escrever um texto, pediam-me a mim. Depois, o exercício das minhas funções como técnica de projetos de prevenção da violência, onde convivo com crianças e jovens, exige a criação de atividades, onde as histórias ocupam um papel principal. Foi assim que percebi que deveria continuar a escrever, materializando e dando “vida” às histórias que muitas vezes criei.

 Qual o papel que a escrita ocupa na sua vida?

É algo que me preenche. É um complemento à minha vida profissional e pessoal.

 Sempre sonhou publicar um livro? /Publicar um texto num livro?

Diria que sim. É um desejo antigo, que foi ganhando mais força e evoluindo para pequeno sonho. Desde que comecei a trabalhar mais de perto com este público, senti a necessidade de escrever mais. O meu foco não são as narrativas habituais. Interessa-me passar uma mensagem social em cada história que escrevo. O meu lema é escrever sobre temas importantes e atuais, onde para muitas pessoas faltam as palavras certas.
E quero que as minhas histórias cheguem ao maior número de pessoas possível.

 Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o livro nas mãos?

É uma sensação muito boa. De alegria e de orgulho. É mais uma pequena conquista e a certeza de que o caminho também pode ser por aqui. Agora, é só continuar.

 Tem algum projecto a ser desenvolvido, actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de escrever?

Tenho pelo menos mais duas histórias na gaveta e que gostaria muito de publicar.
Continuo a sentir esse desejo e a essa necessidade. Nem todos os dias são de inspiração, mas garantidamente não quero ficar por aqui. Afinal, ainda há muitos temas por explorar!

 Fale-nos um pouco sobre o(s) seu(s) texto(s)

A história “O Natal memorável da Leonor” fala de empatia, de solidariedade, de generosidade e da partilha. Não usando necessariamente estas palavras no texto, é esta a mensagem principal que quero passar. Pequenos gestos, grandes consequências. 
No caso de “A detetive Carlota”, o foco é a diversidade. Aprendermos a olhar a diversidade como algo natural e positivo. Não temos de a recear, nem julgar. Afinal, somos todos diferentes e que bom que assim é!
Acima de tudo, acredito que as duas histórias podem conduzir a conversas reflexivas entre as famílias e em contextos educativos. Para as famílias e pessoas da comunidade escolar que perguntam como podem explicar de forma simples o que é a ‘diversidade’, o que é a ‘individualidade’, o que é a ‘escuta ativa’, apresento-vos “A Detetive Carlota”; sobre a ‘generosidade’, a ‘partilha’ e a ‘compreensão’, acredito que “O Natal memorável da Leonor” pode ser uma bonita lição para ler e ouvir.

 Existe alguma parte do texto, em particular, que goste mais. Porquê?

No “Natal memorável da Leonor” não consigo escolher uma parte específica. Gosto particularmente da cumplicidade da Leonor com o avô e acho muito importante que o significado da partilha e solidariedade se materialize no final da história. Na “Detetive Carlota” destaco uma das minhas partes preferidas “A Carlota percebeu que temos de pensar muito bem naquilo que dizemos, que temos de dar tempo e espaço para conhecermos as pessoas e que todas as pessoas têm algo especial que merece ser
elogiado”. Gosto que a história trabalhe o tema da diversidade de uma forma simples e lúdica, com uma história capaz “de tocar o coração” de qualquer pessoa. Fala da singularidade e individualidade de cada pessoa, do poder das palavras, da escuta ativa e da compreensão.

 Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu texto? O que acha mais apelativo no seu texto?

Pelos temas e mensagens que são transmitidos. É possível, de uma forma simples e pedagógica, abordar temas atuais e extremamente relevantes. É isso que me move em cada história que escrevo. É a pensar também na educação e no desenvolvimento integral e saudável das crianças e jovens. Aquilo que mais podemos desejar é que as crianças e jovens da nossa vida cresçam realizadas e felizes.
A minha perspetiva é que estas histórias devem ser lidas o mais cedo possível, cultivando a nossa mente, educando-nos para educarmos e plantando as sementes da inclusão e do respeito.

 Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?

Fui respondendo a esta questão nas respostas anteriores. Procuro escrever sobre todos os temas que eu considero de grande importância abordar e onde sinto que ainda não existem grandes ofertas. Por exemplo, ler com crianças sobre diversidade.
Existem assim tantas opções no mercado? Diria que não, infelizmente.

 Qual o papel das redes sociais na vida e na divulgação da obra de um autor? E na sua?

As redes sociais têm um papel fundamental. A evolução das tecnologias acaba por implicar que uma parte da divulgação do nosso trabalho seja feita através destes meios. Podemos chegar a mais pessoas e assim concretizar os nossos objetivos de sermos “lidos” por mais gente.

 Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?

Gosto muito de livros históricos, dos que fazem mesmo “viajar no tempo”. Também adoro livros infantis, sobretudo de me inspirar em histórias que me acrescentam.

 

Contos Contados e Encantados – Contos Infantis -Vários autores

PVP: 12,00€
178 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2023

Jovem leitor, esta prenda é para ti, 6 bonitas histórias para leres e releres ao longo da tua vida.(…) E que sonhes, sempre! Sonha um mundo bom, com gente que se ama, se respeita e se ajuda e estarás mais perto de o tornar realidade.
E que estes Contos sejam muitas vezes Contados e sejam sempre Encantados.


Livro disponível nas principais plataformas nacionais e internacionais e na nossa loja online.

Pode encomendar enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt

sábado, 13 de abril de 2024

Vaidosicezinhas XIX

 

Ilda Pinto Almeida posando com o quadro no seu ateliê, nos Estados Unidos.



Esta vaidosicezinha é sobre Arte ("Artes Gráficas" no nome da nossa empresa não é só para efeitos decorativos...) e uma arte que nos é especial pois é também a capa do mais recente livro de Ilda Pinto Almeida: Sons Poéticos.
Mas deixemos que seja a artista, a Ilda Pinto Almeida, a contar as novidades*:

"Foi uma satisfação ter recebido a grata surpresa de ser convidada para a EXPOSICIÓN COLECTIVA DE ARTE INTERNACIONAL; que celebra a efeméride do DIA MUNDIAL DEL ARTE e conta com 22 ARTISTAS MEXICANOS11 ARTISTAS INTERNACIONALES INVITADOS, num total de 70 OBRAS DE ARTE. Realiza-se em TLALNEPANTLA Y AZCAPOTZALCO, MÉXICO.
Embora me encontrasse  por terras lafonenses, o meu trabalho continuava do outro lado do oceano e é com muito gosto e orgulho que mais uma vez a bandeira é levantada fora deste cantinho português. Agradeço a Deus por mais esta oportunidade de expor este trabalho que é capa do meu mais recente livro, no México."


 


 

À artista e autora os nossos parabéns e os votos de sucesso.

*Continua actual, dado a exposição só terminar a 1 de Junho. Acontece que este blogue tem uma lista de espera para postagens... 😲